10 anos. E agora?

10 anos. E agora? Para além do sentido de completude que uma década remete, encerrando-se como ciclo de uma trajetória desejada, planejada, visualizada – alicerce que sustenta uma história – sua atuação carrega, ao mesmo tempo, o início de um sistema decimal, uma consistência já pronta para outra ordem de acontecimentos – espécie de abertura a compor-se numa nova história. Nesse sentido, uma década parece ser o momento de encontro consigo mesma, uma relação sem a mediação de um meio. Um corpo que não dispõe de nenhum outro meio que não seja ele próprio. Quando o fim dá início ao começo. 10 anos. E agora? É o arrastado de ontem a olhar-se para urgência de hoje: a realização do Seminário Dança Educação (SD_E).

Com o propósito de discutir, pensar e debater os 10 anos das graduações em dança da Universidade Federal do Ceará (UFC), bem como os processos formativos em dança de caráter público – mediante as políticas públicas voltadas à dança no estado do Ceará – O SD_E irá acontecer do dia 25 a 29 de abril próximo. A iniciativa é dos Cursos de Bacharelado e Licenciatura em Dança da UFC, com o percurso de 17 anos do Curso Técnico de Dança do Porto Iracema das Artes, 9 anos dos Laboratórios de Criação do Porto Iracema das Artes, 10 anos do Curso de Formação Básica em Dança da Vila das Artes, 15 anos da Escola de Dança da Vila das Artes, além da recente criação do curso técnico em dança do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), no ano de 2019. Juntas, essas instituições acompanham e possibilitam, incentivam e sustentam os deslocamentos que a dança opera em suas diferentes temporalidades, sendo uma experiência singular em termos de políticas públicas em dança não apenas no Ceará, mas em âmbito nacional.

Se nos últimos anos tivemos muitas dificuldades em termos de gestão da máquina pública brasileira, com efeitos que reverberam a partir de uma espécie de junção entre o fascismo e o neoliberalismo, bem como o distanciamento que a COVID 19 implementou, 10 anos. E agora? nos chega como urgência. Trata-se de pensar o agora em seu deslocamento. No que virá. De modo a construirmos estratégias possíveis de nos fortalecer como coletivo, dando ensejo da política à estética: uma ação estético-política como tomada de posição; provocando um debate a partir das questões que hoje se colocam como urgência em nossa atualidade - sem, contudo, perdermos a dimensão de passado e futuro que a sustenta. Em resumo, vislumbramos a possibilidade de pensar essa temporalidade garantindo concomitantemente a construção de espaços moventes

Tendo isso em vista, agora é já futuro. Um futuro cujo movimento por vir combina cultura, direitos humanos, liberdades políticas e desenvolvimento sustentável – tarefa que envolve governo, universidade, sociedade civil. Um futuro desde já interessado numa comunidade em busca de criar redes de apoio e aprendizado mútuo. Um futuro cujas bases carregam os termos conectar e compartilhar. Um futuro em movimento. Um futuro a dançar enquanto se dança, insistindo numa espacialidade em diálogo com tendências experimentais, insurgentes e independentes. Ou seja, oficinas, residências, fóruns, discussões, mostras, apresentações de trabalhos locais costuram a programação do SD_E de modo a dar conta desse percurso da dança no Ceará - um percurso determinante, embora aberto, crítico e, no entanto, estratégico; mas, e sobretudo, cooperativo. .